O voto passou a ser utilizado como moeda de troca dos coronéis, o chamado voto de cabresto, que inicialmente era aberto e depois passou a ser secreto. Mas, mesmo sendo secreto, fazia com que os trabalhadores votassem no candidato do coronel, uma vez que havia uma dependência muito grande deste trabalhador em relação aos coronéis, sem contar que a conferência dos votos criava uma situação de obrigatoriedade.
Assim, os coronéis municipais elegiam seus candidatos e se aliavam ao poder estadual, representados principalmente pelos governadores e posteriormente ao Governo Federal, caracterizando, por fim, uma rede de favores.
Por sua vez a denominação coronelismo eletrônico designa a utilização das concessões de radiodifusão como moeda de negociação política. Este coronelismo é um fenômeno do Brasil urbano, que resulta da escolha que a União fez, ainda nos anos 30, da exploração dos serviços públicos de rádio e TV a empresas privadas, concedendo a elas outorgas.
No novo coronelismo, o voto, continua sendo utilizado como moeda de troca. Porém, não mais tendo como base a terra, mas o controle da informação, que é capaz de influenciar a opinião pública, caracterizando-se, desta forma, por ser uma prática antidemocrática.
Encerrando esse primeiro módulo da oficina, contamos com participação de Rosane Sterbbernneer, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Pará. Rosane, atualmente, está desenvolvendo uma pesquisando para o seu curso de mestrado, onde estuda o fenômeno das rádios comunitárias da região da transamazônica (Xingu).
A facilitadora iniciou sua oficina solicitando aos participantes que falassem um pouco de si e relatassem o interesse pela oficina, para assim, depois, dessa breve apresentação iniciar sua explanação. Em seguida, utilizando como recurso o data-show discorreu sobre a Regionalização da Comunicação: Democratização dos Fluxos e Meios. Enfatizou que com o recurso tecnológico é intenso e crescente e, que no processo de globalização ela digitalizou-se, fazendo com que passaremos a viver na era digital. A tecnologia da comunicação está atrelada à globalização.
Segundo Rosane o acesso à comunicação começa na década de 1950, logo após a 2ª guerra mundial. Historicamente, temos a Guerra Fria, onde nesse sistema os Estados Unidos da América controlam as agências de informação, enquanto a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) dominavam a tecnologia via satélite.
Em 1961tem-se a constituição da Liga dos Países Não-Alinhados, ou seja, países que não estavam atrelados à bipolaridade da guerra fria. Estes propuseram a criação de “Um Mundo e Muitas Vozes” – NOMIC, como uma forma de dar voz a seus anseios.
Com a era da globalização, pensou-se em horizontalizar a comunicação, porém esse propósito imperou na lei do mercado, isto é, na competição entre as mega-empresas atuando em rede global. Vamos ter, assim, o mercado global da mídia, isto significa cinco ou seis conglomerados, com uma ou duas dúzias de empresas grandes ocupando os segmentos regionais.
As rádios comunitárias são uma tentativa de dar voz aqueles que não podem fazê-lo nesse sistema centralizador. Quem tem tecnologia acaba controlando o mundo, ou seja, os países mais desenvolvidos tecnologicamente são aqueles que compõem o grupo dos países mais ricos do mundo e, consequentemente os mais estruturados economicamente.
É por meio da expressão do cotidiano local que os cidadãos podem construir significados e se reconhecer nos meios de comunicação, para isto, é necessário o respeito à diversidade dos saberes culturais locais. Por isso, a defesa das rádios comunitárias, que são autênticas representantes da comunidade, como rege o seu principio de participação.
Segundo Rosane, o movimento de rádios comunitárias é grande em nosso Estado, abrangendo quase todos os municípios. Porém, boa parte dessas rádios estão nas mãos de políticos ou religiosos, ou seja, não são rádios comunitárias autênticas. Isso significa que não estão voltadas para atender as necessidades da comunidade onde se localizam. Se democratizássemos os meios de comunicação, propiciaríamos a inclusão tecnológica, assim estaríamos mobilizando saberes.
Belém, 02 de abril de 2009.